O futuro da Indústria Têxtil na Era 4.0: com Robson Wanka

Conversamos com Robson Wanka sobre o cenário da indústria têxtil brasileira a caminho da Indústria 4.0. A adequação do setor a esse momento de transformação e ao cenário mundial, principais desafios, destinos e ganhos dessa caminhada.

Robson implantou a primeira Planta de Indústria 4.0 das Américas no Setor de Confecção (outubro de 2017), responsável pelo desenvolvimento do Master in Business Innovation – MBI: Indústria Avançada – Confecção 4.0 (2018), marco oficial do início da Quarta Revolução Industrial do Setor Têxtil e Confecção (ABIT + SENAI CETIQT).

Profissional com 22 anos de experiência em empresas multinacionais e nacionais de grande porte, coordenador de projetos com instituições de ensino internacionais, organizador de mais de 30 workshops no Brasil, sua jornada é toda marcada pelo propósito de compartilhar conhecimento e promover resultados de alta performance para pessoas, comunidades, empresas e países.

Nessa conversa, Wanka traçou um panorama do cenário atual nacional e mundial, desmistificou o dilema de que recursos financeiros são o maior impasse para essa adequação e acima de tudo deixou um alerta: “quem não se adequar estará fadado a sair do mercado.”

 

Qual é o cenário atual da indústria têxtil nacional?

Por aqui, a maior parte das indústrias têxteis e de confecção continuam na Segunda Revolução, tentando caminhar para a terceira. As mais avançadas estão próximas, pois já automatizaram vários processos, mas ainda estão trilhando esse caminho, vamos dizer assim.

Mundialmente, pouquíssimas empresas estão caminhando para uma Quarta Revolução, que se caracteriza por mais integração, convergência e conectividade.

Que é quando se começa a conectar o consumidor com o processo produtivo. Todos os integrantes da cadeia de fornecimento trocam dados e informações entre si, ganhando com isso muita agilidade.

 

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Como seria se já estivéssemos vivendo o 4.0 de verdade?

Atualmente temos duas situações no processo produtivo: estoques de insumos no início e de produtos acabados no final. Porém, com a Indústria 4.0 não haverá esse estoque de insumos.

Todas as máquinas irão trocar informações entre si e saberão, por exemplo, quando estiver acabando o papel de sublimação, a tinta e o tecido. Quando isso acontecer, os sensores detectam e avisam a cadeia de fornecimento. E a entrega é feita sob demanda, Just in Time.

Que benefícios isso vai trazer?

  • Ganho de tempo;
  • Redução de estoque;
  • Redução de área;
  • Maior assertividade.

Teremos um enorme ganho de personalização e de satisfação do cliente. Isso tudo é uma mudança muito violenta!

Pois,  antigamente um designer projetava roupas para outras pessoas. Com a Indústria 4.0 é o consumidor que vai projetar sua roupa, em uma espécie de customização em massa. E esse consumidor empoderado vai querer criar o seu próprio produto, e não ser igual aos outros.

As pessoas não querem mais comprar uma roupa em um magazine onde existem mais 100 mil iguais aquela. Elas desejam uma peça com um corte especial, um detalhe pessoal… as pessoas querem se sentir únicas, ou seja, personalização!

 

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O que a tecnologia da Indústria 4.0 faz que sem o auxílio dela não somos capazes?

Tomar a decisões mais assertivas. E é isso que a Indústria 4.0 traz. Uma maneira de entender vários cenários por meio do Big Data, interpretar esses dados e tomar a decisão mais assertiva.

Um exemplo disso é uma brincadeira que fizemos na nossa planta: um braço robótico dá um toque na coxa da pessoa e mede o tônus muscular. Com base no tônus muscular, na rigidez da pele, ele aperta mais ou deixa mais larga a calça legging, corsário ou capri.

É uma medição automatizada, onde a inteligência artificial toma uma decisão autônoma na produção.

Nenhum designer, costureira ou modelista precisa dizer para apertar mais ou deixar mais frouxo, o robô é quem toma a decisão.

Então essa é uma mudança drástica na forma como as empresas se relacionam. Há uma série de dados e informações à disposição para tomada de decisão autônoma, então já é possível tomar algumas decisões com pouca interferência do ser humano. Só que o volume de dados está se multiplicando cada vez mais rápido.

Existe um estudo que diz que até o ano 1900 o volume de informação dobrava a cada 100 anos, hoje ele dobra a cada 13 meses, e no futuro vai dobrar a cada 12 horas. Vai haver uma mudança muito forte na sociedade com relação ao uso dessas informações. E a Indústria 4.0 é para isso.

 

 

Como a produção brasileira está se comparada aos principais polos mundiais têxteis em implementação dos conceitos da Indústria 4.0?

A nossa planta foi a primeira das Américas, com vários componentes tecnológicos que não existem nos EUA. A Alemanha lançou uma planta semelhante seis meses antes da nossa, mas a nossa é mais avançada.

O fato é que o conhecimento está disponível, o que está faltando é atitude para usar as tecnologias.

O que falta é as empresas começarem a utilizar a tecnologia disponível para melhorar a competitividade. Ou seja:

  • reduzir custo;
  • reduzir tempo;
  • melhorar a qualidade;
  • reduzir desperdício.

É preciso colocar em prática medidas que envolvem a segurança, o tempo de entrega do produto e a correção dos erros. Aprender a errar menos e, se errar, como corrigir mais rápido.

A Indústria 4.0 traz essas tecnologias para que as empresas consigam ser mais assertivas e entregar valor mais rápido ao seu cliente.

 

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Porque está tão difícil avançar na Indústria 4.0 no segmento têxtil?

Participamos de feiras internacionais e percebemos que a costura ainda é o grande gargalo. Já se consegue automatizar etapas pontuais, mas isso de fazer uma camisa social inteira, colocar o projeto e costurar, ainda não existe.

O Senai de SP conseguiu fazer o fechamento automatizado de uma t-shirt, já é uma evolução, mas o desafio é colocar isso em escala profissional.

Visitei a Softwear, nos Estados Unidos. Eles estão há nove anos desenvolvendo um sistema com esferas que giram o tecido e o colocam na máquina para ser costurado.

Mas essa tecnologia ainda possui limitações, porque o tecido precisa ser mais pesado para o equipamento transportar senão ele enruga devido à maleabilidade. Nós não identificamos nenhum lugar no mundo fazendo isso em escala industrial ainda.

 

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Quais são os principais desafios que o setor terá que enfrentar para se adequar a indústria 4.0 no Brasil?

Para implantar uma indústria 4.0 você precisa inicialmente organizar coisas básicas na empresa. E isso não está necessariamente ligado à tecnologia. Então a primeira etapa é caminhar organizando a empresa.

Trata-se de preparar a cultura da otimização, a cultura do controle, da organização. E então, conforme for evoluindo, vai aplicando um sensor para medir tempos, outro para medir desempenho, passa a verificar a qualidade com menos interferência humana.

Gradativamente você vai coletando dados para tomada de decisão. Não é um “salto quântico”! Tem que passar por etapas anteriores para poder chegar lá.

É uma questão bem cultural, pois o empresário tem que buscar a educação, o conhecimento.

A empresa tem que ter conhecimento antes de tudo. Saber quais são as tecnologias disponíveis e como essas tecnologias podem trazer benefícios reais. Posteriormente pesquisar informações sobre esse equipamento e depois buscar um fornecedor para implantá-lo na sua empresa.

 

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Qual sua opinião sobre investimento X retorno para essa adequação à Indústria 4.0?

Como a adequação é gradativa, o investimento também deve ser gradativo. Conforme você investe, o investimento começa a dar retorno e você vai reinvestindo. É um processo contínuo de crescimento que vai se retroalimentando. Os ganhos gerados pagam os investimentos e permitem investir em novas tecnologias, o importante é dar o primeiro passo.

Mas é necessário entender o cenário para poder ter atitude correta.

Hoje, querendo ou não, várias empresas são informais e muitas são de origem familiar. O produto começou a vender, começou a ter demanda, e o negócio começou a crescer.

Muitas empresas olham o preço de um produto similar no mercado e vende-se pelo mesmo valor. Falta conhecimento técnico de como melhorar o produto.

Esses empresários provavelmente possuem muito desperdício que sequer imaginam que é desperdício. E não possuem conhecimento que existe tecnologia para reduzir essas perdas em mais de 25%. Por isso é preciso entender que a educação é a base.

 

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Qual é a perspectiva de empresas que não se adequem no médio/longo prazo?

O mercado está sofrendo uma transformação muito rápida. Soluções que ainda são caras e de difícil acesso, em curto prazo estarão popularizadas. Veja o exemplo dos drones. Novas tecnologias são muito caras quando são lançadas, mas com o consumo exponencial o preço diminui drasticamente.

Uma grande mudança vai acontecer quando essa tendência chegar à Indústria 4.0. Quem não se adequar vai ficar para trás. E aí que está a importância de estar conectado com uma rede maior.

No Brasil infelizmente as empresas ainda não possuem a cultura de compartilhar como a maioria dos unicórnios no Vale do Silício. Quem possui essa cultura, cresce muito mais rápido, afinal o conhecimento se desenvolve de forma exponencial.

No Vale do Silício eles são fortes porque aprenderam a compartilhar, aprenderam a se integrar. E no Brasil ainda não aprendemos como fazer isso. Mas precisamos aprender, pois quem ficar de fora dessa transformação vai quebrar. Ficará fora de uma rede, fora de um contexto que está acontecendo. A tecnologia já está disponível e muitas empresas já estão usando.

O fato é que:

quem não acompanhar as mudanças vai ficar para trás e vai falir ou perder mercado no médio ou mesmo no curto.

 

Qual o principal motivo de ainda não estarem se adequando?

A falta de conhecimento, antigamente o know-how durava 30 anos numa profissão. Hoje em cinco anos você já está desatualizado, e a tendência é esse prazo fique cada vez menor.

O Fórum Econômico Mundial já mostrou esses números. O estudo The Future of Jobs Report, de setembro de 2018, fala sobre a quantidade de meses (ou anos) necessário para uma pessoa se atualizar se quiser se manter no emprego atual.

 

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Qual é o destino de quem já está se adequando neste momento?

Estas empresas vão ganhar cada vez mais mercado, mais competitividade, e com certeza vão ganhar cada vez mais mercado da concorrência. Serão mais assertivas, enquanto os outros estarão todos longe.

Quem fizer isso vai crescer exponencialmente. E vai crescer rápido.

É isso que as outras empresas precisam entender: o uso da tecnologia está a favor, não contra elas. A tecnologia veio para ajudar. Mas como já mencionei, há sempre a questão do conhecimento e da atitude para fazer as coisas acontecerem.

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